Organizações de defesa dos direitos humanos pedem "onda antifascista" na Grécia
25.10.2012 - 17:32
Por Maria João Guimarães
Membros do Aurora Dourada comemoram o resultado eleitoral em Salónica (Sakis Mitrolidis/AFP)
Primeiro insultaram os imigrantes, agora agridem para matar. Começaram por actuar sob o olhar distraído da polícia, agora a polícia tortura quem se lhes oponha. O alvo eram os imigrantes e os partidos de esquerda, depois também os homossexuais, entretanto são todos os que lhes façam frente.
Enquanto isso, no campo político, três deputados do partido neonazi Aurora Dourada viram retirada a sua imunidade parlamentar. Um deles é o porta-voz Ilias Kasidiaris, mais conhecido pela agressão, em directo, a uma deputada de esquerda num debate televisivo. Em causa está uma acusação contra Kasidiaris por assalto à mão armada em 2007.
Os membros do partido Aurora Dourada, que obteve 7% dos votos (e elegeu 18 deputados) nas legislativas de Junho, vieram a tornar-se cada vez mais ousados nas suas acções depois da eleição, dizem as ONG.
Mas agora 220 dos 330 deputados votaram para retirar a imunidade para que os representantes do Aurora Dourada enfrentem a justiça.
As organizações de defesa dos direitos humanos notaram entretanto que o ministro da Ordem Pública, Nikos Dendias, que até há pouco vinha a mostrar muita complacência para com a violência ligada à extrema-direita, mudou o tom ao declarar que “o Governo não vai tolerar a acção de grupos de atacantes”.
As ONG pedem agora que à retórica se siga uma acção contra os perpetradores de crimes.
Gabinetes de apoio a imigrantes fechados
Nos primeiros nove meses de 2012, foram registados 87 ataques racistas. Mais de metade atribuídos a pessoas com roupas de estilo militar ou identificáveis como pertencendo a grupos de extrema-direita. Em 15 casos, “há ligação entre a violência racista e a polícia”, diz o alto-comissariado da ONU para os refugiados. Muitos ataques não são reportados - este número é considerado "a ponta do icebergue".
“Antes, insultavam-nos. Agora chegaram ao ponto de matar pessoas”, disse o líder da comunidade paquistanesa em Atenas, Javed Aslam, citado num trabalho da Al-Jazira sobre o Aurora Dourada.
Devido a ataques às suas instalações, as associações “legais e representativas” das comunidades afegã, somali e tanzaniana fecharam as suas representações em Atenas, disse à agência francesa AFP Ahmet Mohavia, presidente do Fórum de Imigração grego.
A ligação entre o movimento e a polícia é um dos pontos mais preocupantes deste fenómeno, sublinham as organizações de defesa de direitos humanos. Já se sabia que nas eleições uma grande maioria dos polícias da capital grega tinham votado nos membros do Aurora Dourada. Também já não são novas as histórias da polícia dizer às vítimas de crimes perpetrados por estrangeiros para recorrerem aos elementos do partido, ou de pessoas que telefonam ao Aurora Dourada e não às autoridades caso tenham algum problema.
Opositores atacados nas esquadras
Mas no início do mês o diário britânico The Guardian mostrava um desenvolvimento ainda mais preocupante: descrevia como pessoas que se tinham manifestado contra o racismo e o grupo Aurora Dourada tinham sido sujeitas a maus-tratos, violência e humilhação depois de terem sido detidas pela polícia.
Os manifestantes foram obrigados a despirem-se, a dobrarem-se, foram queimados com cigarros e isqueiros, feridos com tasers (armas que lançam uma descarga eléctrica), deixados sem água durante 19 horas. “Tínhamos tanta sede que bebemos água da sanita”, contou um dos detidos. As duas mulheres do grupo foram sujeitas a insultos sexuais e filmadas, com os polícias a ameaçar pôr as imagens na Internet e dar as suas moradas aos membros do Aurora Dourada.
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