A seleção natural ainda está entre nós?
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Se você for um daqueles biólogos evolucionistas que propaga aos
quatro ventos que a seleção natural não age mais sobre nós, melhor
pensar novamente, porque pesquisadores da Universidade de Sheffield, no
Reino Unido, e do Wissenschaftskolleg de Berlim (Centro para Estudos
Avançados, em tradução livre), na Alemanha, acharam sinais de que ela
ainda estava entre nós há pelo menos 200 anos. E ainda pode estar.
Esse pequeno aviso merece destaque porque contradiz uma hipótese
bastante aceita, porém ainda polêmica no mundo acadêmico, de que a
evolução humana parou há 10 mil anos – alguns cientistas vão mais além e
acreditam que ela se estagnou há 50 mil anos. Para se ter uma ideia,
alguns psicólogos creem que a mente humana não evoluiu (no sentido de
mudança, apenas, sem necessariamente ser para melhor) desde o fim da Era
do Gelo, há cerca de 10 mil anos.
O estudo foi publicado no renomado periódico Proceedings of the National Academy of Sciences
e já coleciona entusiastas, como o biólogo evolucionista Jacob Moorad,
da Universidade Duke, nos Estados Unidos, que não teve participação na
pesquisa. “A seleção natural ainda acontece nos seres humanos modernos.
Sem dúvida”, sentencia Moorad.
Pistas do interior da Finlândia
A descoberta é resultado de uma análise detalhada da vida de quase 6
mil pessoas, nascidas entre 1760 e 1849, em quatro vilarejos
finlandeses. Foram estudados os registros de nascimento, morte e
casamento de cada uma dessas pessoas.
De acordo com o biólogo evolucionário Alexandre Courtiol, principal
mente por trás da pesquisa, foi escolhido esse período e essa população
porque a revolução agrícola já estava consolidada e porque os vilarejos
finlandeses eram caracterizados por regras rígidas no que diz respeito à
monogamia, ao divórcio e às relações extraconjugais. Além de que o país
possui um dos melhores acervos genealógicos do mundo, graças aos
registros feitos pelas igrejas locais.
Courtiol e seus colegas se debruçaram sobre quatro aspectos
principais que afetam a sobrevivência. São eles: quem vivia além dos 15
anos, quem se casava, quem se casava mais de uma vez e quantas crianças
eram tidas em cada casamento.
O número impressiona: quase 50% dessas pessoas morreram antes de
completar 15 anos. Segundo o biólogo do instituto alemão, isso sugere
que essas pessoas tinham características desfavoráveis, como uma maior
suscetibilidade a doenças, por exemplo.
Resultado: esses não conseguiram passar seus genes para frente. Dos
que passaram da décima quinta primavera, cerca de 20% não se casaram e
não tiveram filhos.
De novo, segundo os cientistas, isso sugere que algumas
características impediram esses indivíduos de conseguir uma parceira. E
os números prevalecem sobre qualquer diferença social que pudesse
existir.
Seleção sexual
Courtiol conta que também havia seleção sexual, na qual os homens que
conseguiam atrair mais parceiras tinham uma prole mais abundante.
Assim, a variação no número de filhos girava de zero a 17, o que
representava uma boa oportunidade para a seleção natural ocorrer e a
evolução tomar seu rumo.
“A importância da seleção sexual é amplamente aceita em aves e
peixes, mas é a primeira vez que se constata esse tipo de seleção em
humanos”, afirma o biólogo Stephen Stearns, da Universidade de Yale, nos
Estados Unidos.
Agora é aguardar por novas pesquisas, na esperança de que se possa
comprovar – ou não – a ocorrência da seleção natural nos dias de hoje.
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